Dreamcatcher
(folhetim,
USA, 2003)
USA, 2003)
de Lawrence Kasdan.
por Paulo Ayres
Há algumas ficções que parecem existir para fazer uma determinada passagem, uma ideia chamativa em meio ao encadeamento de lugares-comuns. O filme Dreamcatcher é um desses casos: embora não seja o clímax, a cena do vaso sanitário funciona como um destaque criativo. Não há nenhuma novidade na ideia de um verme alienígena parasitando corpos, mas a maneira como isso é associado com fezes e a tensão criada rendem um momento de identidade para uma obra tão genérica. Na mesma cabana, ocorre depois uma reformulação desse suspense, dessa vez substituindo os palitos de dentes de Beaver (Jason Lee) pelos palitos de fósforos de Henry (Thomas Jane), mas só confirma que o efeito não se repete.
Por outro lado, a melhor característica desse folhetim espacial é a variação de oito à oitenta, do objetivo ao subjetivo, incluindo um
depósito de memória que se passa dentro de Jonesy (Damian Lewis) e,
também, uma floresta coberta de neve e em quarentena devido a um fungo
extraterrestre. Variedade bem encenada pelo diretor Lawrence Kasdan. As duas formas de presença interior oferecem um fio temático interessante, uma junção de intestinos com acervo mental e habilidade telepática. A invasão corporal-orgânica é representada pela enguia e a invasão corporal-psíquica é representada pelo alien humanoide Mr. Gray. Nesse sentido, quando Jonesy “possuído” mata Pete (Timothy Olyphant) os dois aspectos aparecem fundidos e já não há limites entre a infiltração orgânica e a mental, mas isso não importa na coerência da “cientificidade” do enredo.
A certa altura, a sátira edificante evidencia que sua proposta de ficção não é sobrenatural, como poderia parecer à primeira vista. É sobre reservatórios naturais. O natural em sentido estrito, da natureza primária com o parasitismo biótico e, também, em sentido amplo: as particularidades do ser social, incluindo o seu psiquismo, a vida dura em contexto de capitalismo tardio e a camaradagem. Até a cena do banheiro comentada não oferece apenas um impacto gore. É a exaltação da fraternidade. Os sacrifícios, nesse sentido, tornam-se anticorpos frente à desumanização de controladores de corpos, incluindo a ala militar do Coronel Abraham Curtis (Morgan Freeman), que representa a burocracia coisificadora. Dreamcatcher, aliás, é baseado num livro homônimo (2001) de
Stephen King e a trama tem uma base que repete algo já utilizado em obras do autor como The Body (1982) e It (1986): o laço de amizade infantojuvenil.
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Lista de sci-fi feuilleton no subgênero space fiction:
[0] Primeiro tratamento: 05/11/2022.
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