quarta-feira, 6 de setembro de 2023

Desastre artificial

Geostorm 
 
(folhetim,
USA, 2017),
de Dean Devlin.
 


por Paulo Ayres

À primeira vista, Geostorm parece um repeteco do eco-folhetim 2012 (2009). No entanto, é com outro filme de Roland Emmerich que a comparação se mostra mais significativa: Independence Day: Resurgence (2016), lançado no ano anterior. Afinal, Geostorm é um folhetim espacial em que os novos desastres naturais são artificiais, no sentido de que são direta e deliberadamente causados por seres sociais através de intervenção tecnológica. Se, na sátira de Emmerich, a comunidade internacional — harmonicamente integrada — enfrentava os alienígenas, na sátira de Dean Devlin há um complô terráqueo conspirando dentro da Casa Branca, utilizando o ciberterrorismo para controlar o Dutch Boy, um conjunto de satélites com capacidade de alterar radicalmente as condições climáticas.
 
Os interlúdios de contemplação apocalíptica funcionam apenas como fetiche por efeitos especiais. Em certos momentos, a narrativa cria micro-plots soltos, como a moça fugindo do congelamento no Rio de Janeiro ou o menino e o cachorro fugindo dos tornados em Mumbai. O foco na trama de Geostorm, de fato, é a estação espacial internacional, onde, em meio à pluralidade celebrada, se sobrelevará o familismo e o americanismo. Nesse sentido, assim como as duas ficções científicas de Emmerich citadas, essa sátira edificante, protagonizada por Gerard Butler (o astronauta Jake Lawson), serve como uma obra para se analisar a consciência geopolítica contemporânea da ideologia atlantista e, em particular, estadunidense. É outro protodrama que faz questão de indicar — desta vez explicitamente, numa narração em off da filha adolescente no início —, que os EUA estão dividindo a liderança, na administração global, com a China. Ou seja, mais um filme que aponta, debilmente, as atuais contradições nacionais e internacionais da maior potência. Ed Harris faz um bode expiatório, tal como o chauvinismo do Trump. O social-chauvinismo do Partido Democrata é mais discreto. Mesmo em fuga numa tempestade de raios.

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[0] Primeiro tratamento: 15/09/2021.
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