terça-feira, 10 de junho de 2025

Ângulo morto

 Hellboy:
The Crooked Man

(tríler,
USA, 2024)
de Brian Taylor.
 
  
por Paulo Ayres

O mais recente filme do Hellboy é diferente de tudo o que se costuma fazer com esse diabo heroico. Mais uma vez a tendência se confirma: dramatizar super-heróis das HQs é tarefa complicada e os bons dramas com esse material são raros — talvez dê para contar nos dedos de uma mão. Assim como o personagem tem uma mão comum e outra esdrúxula, uma versão trileresca requer uma habilidade de manipulação narrativa menos brucutu.

Ironicamente, The Crooked Man é o filme mais “reto” com o personagem, tanto por ser uma adaptação dramática, como por ser bem comportado para seu contexto de encenação. Antes dessa obra foram feitos cinco folhetins audiovisuais: duas animações — Sword of Storms (2004) e Blood and Iron (2007) — e três em live-action — Hellboy (2004), The Golden Army (2008) e Hellboy (2019). O tríler mágico dirigido por Brian Taylor almeja outra coisa. A seriedade cênica, a atmosfera meio onírica, a fotografia mais acinzentada, o clima de desorientação com direito a um ângulo de baixo para cima com árvores imponentes. É uma floresta amaldiçoada em 1959 que traz um pacote reconhecível de filtro horrorífico. Saídos de um trem, Hellboy (Jack Kesy) e Bobbie Jo Song (Adeline Rudolph) caminham por essa região mal-assombrada habitada por uma comunidade de bruxas e pelo demônio torto que está no título do filme, Crooked Man (Martin Bassindale).
 
Se o todo não se sustenta, não significa que não haja passagens consideráveis como um breve espetáculo estético, mesmo com a aparência de passagens “soltas”. A personagem Cora Fisher (Hannah Margetson) é a que proporciona os momentos mais destacados. Em parte, por demonstrar uma profundidade aflitiva, em parte por ter seu corpo como veículo que conduz efeitos visuais. Preenchimento literal, na trama, e, depois, como suspensão contemplativa em computação gráfica, com uma serpente entrando e saindo do seu corpo — curiosamente é a outra bruxa, a vilã Effie Kolb (Leah McNamara), que é conhecida como ninfomaníaca, embora o filme só a deixe com a fama mesmo, sem acentuar o elemento erótico.
 
O criador de Hellboy, Mike Mignola, participa da produção de The Crooked Man como corroteirista. Independente se aprovou o resultado ou não, sua criatura serve de exemplo de um trem desgovernado que esse reboot levou para a contramão da DC no cinema. Acertadamente, a Warner levou sua subsidiária de super-heróis do drama para a sátira — inclusive, está para estrear mais uma versão folhetinesca do Superman (2025). Enquanto isso, essa mão pesada (e vermelha), mesmo com certo capricho, destoa como drama edificante de superfície.
 
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Lista de fantasy thriller no subgênero magical fiction:
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