(comédia,
BRA, 2025)
de [ ].
por Paulo Ayres
Filme que tematiza a playlist voluntária e involuntária que se forma no pensamento das pessoas, fazendo retrospectivas internas, Evidências do Amor oferece essa reflexão sobre trilhas sonoras subjetivas. Nesse sentido consegue uma oportunidade criativa para inserir “Evidências”. Usa uma canção que se tornou, popularmente, um tipo de patrimônio brasileiro, consolidada para além do período de lançamento por Chitãozinho & Xororó. Trata-se, então, de ver a comédia mágica como um produto que ilumina o posto alcançado por outro produto no Brasil. Além disso, traz a questão de como a recepção artística se molda de forma distinta nos indivíduos sociais.
Mesmo sendo uma sátira edificante de amor e, portanto, uma obra que anda na trilha segura de entretenimento padronizado, Evidências do Amor, parte de um ponto de fracasso. Depois de três anos juntos, Marco Antônio (Fábio Porchat) e Laura (Sandy Leah) se separam. Sempre que ouve a canção composta por José Augusto, Marco faz um retorno temporal em um ponto específico de sua trajetória de vida. Nessas rápidas viagens, ele é um tipo de espírito invisível, que, como descobre depois, pode até assumir o controle corporal e mudar o comportamento, mas sem alterar seu tempo presente. Em resumo, as voltas são uma metáfora para a investigação psicológica, aonde Marco vê momentos conflituosos. Percebe que o término do relacionamento não foi sem explicação ou do nada, mas um acúmulo cotidiano de pequenos atritos. No desenvolvimento narrativo, informa-se o protagonista, e o espectador, que Laura sofre da mesma ocorrência, porém, sua memória seletiva só traz os bons momentos. É a expansão da perspectiva de ambos. Terapia de casal.
Evidências do Amor consegue manter o interesse nessa tecla de uma nota só, pois parte do dado culturalmente reconhecível de “Evidências” sendo ouvida em algum lugar. Fazendo disso uma estrutura irônica, em cada queda de lado nos retornos da ficção fantasiosa, cria uma ilustração de outra tendência cultural nos tempos de internet: ouvir a mesma canção mais de cinquenta vezes, até enjoar. O filme são constantes giros, até a reconciliação. Movimento que, de certa forma, vale até para a amiga de Marco, Júlia (Evelyn Castro), que, antes, era apenas uma auxiliar debochada do experimento.
Curiosamente, “Cheia de Manias”, do Raça Negra, surge como outro exemplo de consolidação pop na cultura nacional e, com isso, expande perspectivas após algumas cenas piegas coexistentes. Nas entrelinhas, sugere também que outros conflitos virão na vida cotidiana, podendo ser superados, mais ou menos, pelo molejo dialético do casal.
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