segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Engenharia genética

 Jurassic World Rebirth

(folhetim,
USA, 2025)
de [ ].
 
 

por Paulo Ayres

Terceira gênese da franquia, Jurassic World Rebirth continua a saga do convívio da humanidade com os dinossauros em nível mundial. A fonte original dos folhetins audiovisuais são os livros de Michael Crichton — os tríleres Jurassic Park (1990) e The Lost World (1995) — e o primeiro tratamento cinematográfico (1993) veio com Steven Spielberg. O impacto do filme original vem da combinação estratégica de efeitos visuais de última geração e narrativa dinâmica, mostrando espécies a conta gotas, pequenos espetáculos como momentos bem distribuídos. O embrião desse estilo de revelação gradual está em outra eco-ficção do diretor, Jaws (1975). Jurassic World Rebirth, por sua vez, é o episódio mais aquático, tendo boa parte do seu enredo acontecendo em embarcação. O grupo da vez desembarca numa ilha com instalações abandonadas. O assunto da engenharia genética se intensifica por uma necessidade própria da série em apresentar novidades para o espectador.
 
Jurassic World (2015), de Colin Trevorrow, emerge parecendo repetir a proposta da sátira original, mas funciona como uma retomada e trampolim. Os desastres abrem as fronteiras do novo parque e espalham dinossauros pelos biomas, mares e cidades do planeta Terra. A chamada era neo-jurássica coloca Jurassic World Rebirth para trabalhar com a tradição de manter certas linhas gerais e apresentar sempre um pouquinho mais de grandiloquência em computação gráfica e na sensação fabricada de perigo. No parque inicial de Jurassic World, ainda dentro da lógica capitalista de uma empresa, informa-se sobre uma parceria entre cientistas e publicitários para criar uma espécie inédita, moldando o material genético de organismos. Desbancando o tiranossauro como atração principal do filme, aparece o “Indominus rex”. Ou seja, a própria elaboração do filme é como se estivesse refletida ali, na tarefa de manter o bom nível de entretenimento, num período em que os recursos digitais são cada vez mais refinados e corriqueiros. A ilha abandonada de Jurassic World Rebirth prossegue nesse fio condutor. As experiências biológicas já foram realizadas e o espanto dos nossos guias é por encontrar espécies de dinossauros que não costumam ser vistas. Na verdade, a maioria soa como répteis adornados que se pode ver, às vezes, em ficções fantasiosas sobre dragões e similares. Jurassic World Rebirth, todavia, é uma ficção científica e a aproximação da câmera em close, indicando maravilhamento, está numa equipe meio pesquisadora, meio mercenária. Os destaques na tarefa de coletar material orgânico de dinossauro são Zora Bennett (Scarlett Johansson), Duncan Kincaid (Mahershala Ali) e Henry Loomis (Jonathan Bailey).

Na primeira parte, a sátira edificante de [ ] parece que vai abrir mão de um dos elementos chave na série. O episódio se desenrola e nem sinal de uma família nuclear. Contudo, logo surge uma, bronzeada e navegando. A família de Reuben Delgado (Manuel Garcia-Rulfo). Os grupos se unem na busca de sobrevivência e completar a missão da indústria farmacêutica. A afirmação da ideologia familista é uma constante nos filmes desse universo e em boa parte das ficções pelo mundo. Nos exemplares avançados é uma dose moderada. Em The Lost World: Jurassic Park (1997) e Jurassic Park III (2001), por exemplo, há uma overdose de familismo nos espelhamentos propostos pelos roteiros, abrangendo os seres vivos retratados. Em The Lost World, a metáfora através da tese de fundo é que os tiranossauros são pais eficientes: depois do resgate do filhote na cidade, aparece um par deles (um casal?). Em Jurassic Park III, de Joe Johnston, além de haver um piá aventureiro solitário durante um tempo, há a visão dos velociraptors como genitores zelosos, refletindo o núcleo familiar padrão da trama. Felizmente, Jurassic World Rebirth não tem isso.
 
Algo que é dito como comentário biológico é que duas espécies vistas realizaram uma simbiose mútua, uma contribuindo com a outra. Serve como metáfora interna para a junção dos grupos humanos. Para além disso, a interação de uma espécie de criaturas mutantes, que parecem brontossauros, é contemplada num campo aberto. No outro extremo, o horror é proporcionado pelo “Distortus rex”, a principal criatura antagonista no folhetim. Um predador com mutações que ultrapassam o simples grau de modificação corporal que os realizadores fizeram antes. Distorção concentrada.
 
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