segunda-feira, 15 de abril de 2024

Fonte secundária

Urban Legend 
 
(folhetim,
USA/CAN, 1998),
de Jamie Blanks.
 


por Paulo Ayres

Nos anos em que a saga Scream (1996–) despertou uma nova onda de folhetins de mistério, com serial killer de identidade a ser desvendada, aparece Urban Legend, um filme com identidade curiosa. Nessa sátira edificante dirigida por Jamie Blanks, o jogo de referências ao cinema sobre assassinos em série é substituído pelas referências ao folclore urbano, alimentado pela paranoia típica da nossa sociabilidade específica, ou mais particularmente ainda, pela vida nos Estados Unidos contemporâneo. A premissa, como se pode notar, é bem interessante. O desenvolvimento não.

Urban Legend possui vários rostos juvenis disputando um lugar ao sol na nova geração de atores hollywoodianos — e o único que se destacaria nesse intento é Jared Leto, que aqui faz Paul Gardner, um aprendiz da imprensa liberal sensacionalista. Aliás, um certo cinismo, potencializado pela superficialidade mecânica da narrativa, ajuda a fazer desse ambiente universitário uma boa metáfora do cotidiano coisificado — a gótica depressiva, companheira de quarto da final girl ruiva, ilustra bem a frieza dessa rotina.
 
O primeiro filme de uma trilogia, Urban Legend esclarece seu mistério whodunit e coloca o manjado epílogo sinistro deixando a porta aberta para as continuações. Entretanto, até chegar ao desfecho explicativo e (provisoriamente) corretivo, o clima de indiferença aumenta e compromete a identificação com as personagens. As lendas urbanas, comentadas no enredo, tornam-se indistinguíveis do próprio grau de insensibilidade na rotina apresentada, nivelada em anestesia, seja pelas autoridades, como o reitor e a policial do campus feita por Loretta Devine (espectadora de folhetim da atriz Pam Grier), ou pela boemia acadêmica. Diferente de Scream, em que há o impacto na transposição e reflexão sobre certos clichês de horror para aquele real, em Urban Legend, cada episódio fatal se desfaz como um pesadelo. Deve ser por isso que o Freddy Krueger, isto é, Robert Englund como um professor folclorista, é um dos principais suspeitos.

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[0] Primeiro tratamento: 06/09/2021.
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