sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Linha ocupada

Entre Idas e Vindas 
 
(folhetim,
BRA, 2016)
de José Eduardo Belmonte.
 

por Paulo Ayres

Tal como Billi Pig (2012), Entre Idas e Vindas é a oportunidade de ver José Eduardo Belmonte numa abordagem satírica. O cineasta se destacou em dramas que revelam um talento para a composição cênica de sutilezas, tendo certo olhar que realça a comunicação social como componente mediador que atravessa núcleos. Nesse sentido, Entre Idas e Vindas, com sua temática caroneira, é o veículo feito sob medida para jogar na tela vários clichês de road movie e de registro caseiro afetivo. O problema nessa sátira é que o roteiro (que Belmonte escreveu junto com Cláudia Jouvin) é redundante como mero passatempo água-com-açúcar preso a um atrito superficial. Um folhetim de costumes com verniz indie até na trilha sonora de MPB “alternativa”, que inclui Marcelo Jeneci e Móveis Coloniais de Acaju. Psicoterapia de boteco, os papos e cervejas de parada na estrada formam um ritual agridoce.

São quatro as amigas em viagem: as servidoras de telemarketing Amanda, Sandra, Krisse e Cillie; porém apenas a primeira (Ingrid Guimarães) está no foco do enredo romântico-amoroso. Na estrada, elas encontram um pai solo com pinta de galã (Fábio Assunção) e seu filho esperto, deixados na mão por um Lada velho. Reunindo essas peças, um ar familista preenche o motorhome e os home videos de filtro amarelado. Independente da pieguice que há na sátira edificante, Belmonte é um habilidoso criador de clima intimista.

Como antítese, mas nem tanto, a única força ali que insinua a capacidade de romper o esquema moralista e feel-good da história é a personagem de Alice Braga, Sandra; contudo, ela é reduzida a um pivô passageiro entre o casal protagonista. Há também bastante potencial nas estranhezas que essa turma encontra em certas figuras das cidadezinhas por onde passam. É como se essas contradições interioranas estivessem ali clamando para entrar e agitar a trama, mas o que ocorre são apenas algumas conversinhas entre eles e o núcleo que é o fio condutor. Nota-se uma barreira entre os viajantes e as paradas. De fato, Entre Idas e Vindas é uma viagem segura numa pista de mão única. Trânsito binário.

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